Uma nova startup do Vale do Silício, chamada Mechanize, está causando alvoroço e gerando debates acalorados nas redes sociais desde seu lançamento. O motivo? Sua missão declarada de forma audaciosa: alcançar a "automação total de todo o trabalho" e, consequentemente, a "automação total da economia".
Lançada por Tamay Besiroglu, um conhecido pesquisador de IA e fundador da organização de pesquisa sem fins lucrativos Epoch AI, a Mechanize não esconde seu objetivo final: substituir trabalhadores humanos por agentes de inteligência artificial. Besiroglu anunciou a startup em uma postagem na plataforma X (antigo Twitter), detalhando a visão de fornecer dados, avaliações e ambientes digitais para viabilizar a automação de qualquer tipo de trabalho.
O fundador chegou a calcular o mercado potencial da sua ideia somando todos os salários pagos atualmente. "O potencial de mercado aqui é absurdamente grande: trabalhadores nos EUA recebem cerca de US$ 18 trilhões por ano em agregado. Para o mundo inteiro, o número é mais de três vezes maior, cerca de US$ 60 trilhões por ano", escreveu ele. Besiroglu esclareceu, no entanto, que o foco imediato da startup está no trabalho de escritório (white-collar), em vez de trabalhos manuais que exigiriam robótica física.
Controvérsia e Conflito de Interesses
A reação à proposta da Mechanize foi imediata e, muitas vezes, brutal. Críticos apontam não apenas para as implicações éticas e sociais de eliminar empregos em massa, mas também para um potencial conflito de interesses envolvendo a Epoch AI, instituto de pesquisa de Besiroglu.
A Epoch AI é conhecida por analisar o impacto econômico da IA e produzir benchmarks de desempenho, sendo vista por muitos como uma fonte imparcial para verificar as alegações dos desenvolvedores de modelos de IA de ponta. A associação de seu fundador com uma startup focada em automação levanta questões sobre a neutralidade da pesquisa do instituto. Um diretor da Epoch chegou a postar no X: "Yay, exatamente o que eu queria para o meu aniversário: uma crise de comunicação".
Essa não é a primeira vez que a Epoch enfrenta controvérsias. Anteriormente, a organização foi criticada por demorar a divulgar que a OpenAI havia financiado a criação de um de seus benchmarks.
Defesa e Ceticismo
Apesar das críticas, Besiroglu argumenta que a automação completa do trabalho não levará ao empobrecimento, mas sim a um "crescimento econômico explosivo", "abundância vasta" e padrões de vida muito mais elevados. Ele sugere que, mesmo em um cenário automatizado, os salários humanos poderiam aumentar para aqueles em "funções complementares que a IA não pode executar" ou que as pessoas poderiam viver de outras fontes de renda, como aluguéis, dividendos ou bem-estar social financiado pelo governo (presumivelmente, por impostos pagos pelas IAs).
Essa visão otimista, no entanto, ignora uma questão fundamental: sem empregos, como as pessoas terão renda para consumir os bens e serviços produzidos pelos agentes de IA? O debate sobre a distribuição da riqueza gerada pela automação permanece em aberto.
O Desafio Técnico e a Competição
Embora a visão de Besiroglu seja extrema, o problema técnico que ele busca resolver é real. Os agentes de IA atuais ainda são pouco confiáveis, têm dificuldade em reter informações e executar planos de longo prazo. Melhorar essas capacidades é crucial para qualquer nível de automação significativa.
A Mechanize, no entanto, não está sozinha nessa corrida. Gigantes da tecnologia como Salesforce, Microsoft e OpenAI, além de inúmeras outras startups, também estão investindo pesado no desenvolvimento e aprimoramento de agentes de IA.
Apesar da controvérsia, a Mechanize conta com investidores de peso, incluindo nomes como Nat Friedman, Daniel Gross, Patrick Collison e Jeff Dean. E, segundo Besiroglu, a startup está contratando.