Uma nova disputa parece estar se formando no cenário tecnológico global. A Figma, gigante do software de design colaborativo, enviou uma notificação extrajudicial (cease-and-desist) à Lovable, uma promissora startup sueca de IA no-code, exigindo que a empresa pare de usar o termo 'Dev Mode' em um de seus novos recursos. A informação foi confirmada pela própria Figma ao TechCrunch.
A notificação baseia-se no fato de que a Figma possui um recurso com o mesmo nome e, de acordo com o Escritório de Patentes e Marcas dos Estados Unidos (USPTO), conseguiu registrar com sucesso a marca 'Dev Mode' no ano passado.
O ponto de discórdia, no entanto, é que 'dev mode' (modo de desenvolvedor) é um termo amplamente utilizado na indústria de software, referindo-se geralmente a um modo que oferece mais controle ou acesso a funcionalidades de desenvolvimento. Produtos de empresas como Apple (iOS), Google (Chrome) e Microsoft (Xbox) possuem recursos formalmente chamados 'developer mode', frequentemente abreviados para 'dev mode' em materiais de referência.
Além disso, o termo 'dev mode' em si já era comum muito antes do registro da Figma. Ferramentas da Atlassian, por exemplo, já utilizavam o termo anos antes, e ele é encontrado em inúmeros projetos de software de código aberto.
A Figma esclarece que sua marca registrada cobre apenas a forma abreviada 'Dev Mode', e não o termo completo 'developer mode'. Ainda assim, a situação é comparada por alguns a tentar registrar a marca 'bug' para se referir a 'debugging'.
Legalmente, para manter a validade da sua marca registrada, a Figma é obrigada a defendê-la contra usos que considere infratores. Caso contrário, corre o risco de o termo se tornar genérico e a marca perder sua força legal. A notificação enviada à Lovable, segundo relatos, foi feita em tom polido.
Críticos na internet argumentam que o termo já é genérico e não deveria ter sido concedido como marca registrada, sugerindo que a Lovable deveria contestar a exigência. A startup, no entanto, ainda não se pronunciou oficialmente sobre seus próximos passos.
Enfrentar uma batalha legal internacional pode ser financeiramente desafiador para a Lovable, que levantou uma rodada seed de US$ 16 milhões em fevereiro. Alterar o nome do recurso para 'developer mode' ou outra alternativa seria, sem dúvida, uma opção menos custosa.
O mais interessante nesse embate é o posicionamento da Lovable no mercado. A startup é uma das estrelas em ascensão do chamado 'vibe coding' – plataformas onde os usuários descrevem o que desejam em texto e a IA constrói o aplicativo, incluindo o código. O recurso 'Dev Mode' da Lovable foi lançado justamente para permitir que os usuários editem esse código gerado.
A Lovable se promove abertamente como uma concorrente da Figma, afirmando em seu site que permite aos designers criar "sem o tedioso trabalho de prototipagem em ferramentas como Figma".
Portanto, a disputa vai além de uma simples questão de marca registrada. Trata-se também de um concorrente maior (Figma, avaliada em US$ 12.5 bilhões) mostrando sua força contra uma startup inovadora e potencialmente disruptiva. Um porta-voz da Figma praticamente admitiu isso ao TechCrunch, afirmando que notificações semelhantes não foram enviadas a outras gigantes como a Microsoft, pois seus produtos estariam em "categorias diferentes de bens e serviços".
Quanto à ameaça geral representada pelas ferramentas de 'vibe coding', o CEO e cofundador da Figma, Dylan Field, minimizou a ideia recentemente, apontando para a dificuldade dessas ferramentas em levar os projetos "até a linha de chegada" com a mesma robustez.
Do lado da Lovable, o cofundador Anton Osika pareceu não se abalar com a notificação, compartilhando uma cópia da carta no X (antigo Twitter) com um emoji sorridente.
Resta agora aguardar para ver se a Lovable optará por renomear seu recurso ou se decidirá enfrentar a gigante Figma nos tribunais ou em negociações.