A era da inteligência artificial (IA) avança a passos largos, mas traz consigo um desafio colossal: a infraestrutura necessária para sustentá-la. Os data centers projetados para treinar e operar modelos de IA estão crescendo a um ritmo exponencial, e um novo estudo alerta que eles podem em breve conter milhões de chips, custar centenas de bilhões de dólares e exigir o equivalente à rede elétrica de uma cidade grande.
A pesquisa, que analisou a trajetória de crescimento de mais de 500 projetos de data centers de IA globalmente desde 2019, revela uma tendência preocupante. Embora o desempenho computacional dessas instalações esteja mais do que dobrando anualmente, os custos de capital e, crucialmente, as necessidades de energia também estão duplicando a cada ano.
Estes números ilustram a magnitude do desafio para construir a infraestrutura que suportará o desenvolvimento da IA na próxima década. Gigantes da tecnologia já estão fazendo apostas massivas. A OpenAI, por exemplo, busca levantar até US$ 500 bilhões para uma rede de data centers de IA. Outras empresas como Microsoft, Google e AWS comprometeram-se coletivamente a gastar centenas de milhões de dólares apenas este ano para expandir sua capacidade.
O estudo projeta um futuro onde a escala é quase inimaginável. Até junho de 2030, o principal data center de IA poderá ter 2 milhões de chips, custar US$ 200 bilhões e exigir 9 GW de potência – aproximadamente a produção de nove reatores nucleares. Um exemplo atual, o data center Colossus da xAI, já tem um custo estimado de US$ 7 bilhões e consome cerca de 300 megawatts, o suficiente para abastecer 250.000 residências.
Embora os data centers tenham se tornado mais eficientes energeticamente nos últimos cinco anos (com o desempenho computacional por watt aumentando 1.34x ao ano), essas melhorias não são suficientes para compensar o crescimento explosivo da demanda. Analistas preveem um aumento de 20% no consumo de energia dos data centers até 2030, o que pode sobrecarregar as redes elétricas e até mesmo forçar um aumento no uso de fontes de energia não renováveis, como combustíveis fósseis, indo na contramão dos esforços de sustentabilidade.
Além da energia, esses mega projetos levantam outras preocupações ambientais, como o alto consumo de água e o uso extensivo de terras. Há também implicações fiscais, com alguns estudos apontando que generosos incentivos fiscais concedidos a data centers podem erodir significativamente a base de arrecadação de impostos em diversas regiões.
No entanto, o futuro não está escrito em pedra. Há sinais recentes de um possível "resfriamento" no mercado. Algumas das maiores empresas de tecnologia, como AWS e Microsoft, teriam recuado em alguns projetos de expansão nas últimas semanas, talvez refletindo um receio da indústria sobre uma expansão insustentável.
O dilema é claro: como equilibrar a necessidade voraz da IA por poder computacional e energia com a urgência de um desenvolvimento tecnológico sustentável? A construção da infraestrutura para a próxima geração de IA será, sem dúvida, um dos maiores desafios de engenharia, financeiros e ambientais da nossa era.